sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Voar

Lyh era um pássaro criado em cativeiro, ou melhor, uma pássara.
Muito pequena fora retirada da natureza e posta numa gaiola de um menino doce e gentil que lhe dava água, comida e amor.
Depois de um tempo ela praticamente esqueceu-se de como era sua vida de antes, pois a que levava agora era tranquila e aconchegante.
O menino aos poucos decidiu que deixaria a gaiola aberta, pois confiava na reciprocidade do amor que dedicava a ela.
Depois de um certo tempo, viu que podia tirá-la da gaiola e deixa-la solta pela casa. Estava seguro que ela não sairia de sua vida.
Lyh gostou da vida fora da gaiola, mas aos poucos sentia o menino cada vez mais distante e acomodado em seus afazeres. Agora que ela passeava pela casa podia pegar por si mesma a comida e a água, abastecidas em abundância do lado de fora da gaiola.
Podia fazer o que quisesse, mas sentia-se só.
Então teve um sonho.
Com mil pássaros iguais a ela cantando e voando ao seu redor, cuidando e amando-a como ela não fazia ideia se era ou não possível. Acordou num salto. Seria possível tornar o sonho realidade? Haveriam outros iguais a ela? Haveria amor fora daquela casa?
Procurou pelo menino e não o encontrou, havia saído como tantas outras vezes, e deixado as janelas abertas. Lyh subiu numa das janelas. Viu a imensidão à sua frente.
Sentiu medo, mas seu instinto foi mais rápido que as batidas de seu coração.
E ela voou.
Não sabia o que encontraria, mas sabia que não voltaria mais.
Partiu em busca do que nem sabia o que era, porque o que ela sabia o que era, era pouco para o que ela queria.
Ela queria muito mais.



(21.11.2012)